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Eu e a bunda


Eu tenho uma longa história com a minha bunda. Obviamente, ela me acompanha desde que nasci, mas vou contar a versão resumida. Venho de uma família com o tradicional corpo brasileiro de quadris avantajados, tanto do lado do meu pai quanto da minha mãe. Demorou para que eu percebesse que herdei a genética, e também não prestei atenção nesse detalhe até por volta dos 12 anos. Era estreita na infância, sem indícios de desenvolvimento arredondado (convenhamos, nessa idade o tamanho da dita cuja não fazia diferença nenhuma). Na pré-adolescência, quando finalmente apareceram as curvas suaves, não percebi que meu traseiro alargava. O importante era escolher o sutiã, oras, começava a ter peitos, um marco na vida das meninas. Era engraçado, acho que enquanto os meninos ficam esperando pelos na axila, as meninas ficam na expectativa da marquinha do sutiã. 

E a bunda seguiu negligenciada… até o dia em que, fazendo trilha junto a uma turma, usando um microshort (era É o Tchan!), sem dar a mínima para “tá aparecendo alguma coisa?”, eis que ouço o comentário: “e a bunda da Helô?”.

Bunda? Minha? Mas eu não tinha bunda, pensei.

Fingi que não ouvi e banquei a egípcia até o momento em que pisei em casa. Lá fui eu, parar diante do espelho, de costas, e dar aquela olhadinha básica sobre o ombro. O espelho não era de corpo inteiro então não vi muita coisa, mas acabei acreditando no que ouvi. Eu tinha bunda.

Daí pra frente, comprar calça se tornou um inferno. Sempre ficava apertada nas coxas, larga na cintura. Ou entrava no quadril facilmente e me deixava quadrada. Tinha que experimentar 10 para escolher 1. Ou nenhuma.

Também começaram os olhares, o que me deixava desconfortável. Os meninos reparavam, comentavam… até hoje escolho com cuidado o que vestir (se a calça é justa, blusinha larga; se a calça é larga, blusa justa). Se der bobeira ouço cantadas e assobios toda vez que saio de casa. 

Enfim, com maturidade, aceito meu corpo numa boa, sem medo ou receio. Meu quadril 42/44 e busto P/M dão trabalho para encontrar par de biquíni, e está tudo bem! Meu corpo é único e é meu. Combina com quem me tornei e praticamente me esqueço da retaguarda avantajada.

Só que agora o bumbum voltou a ser protagonista na minha vida. No auge dos 36 anos, resolvi retomar um antigo hobby: andar de patins.

É lindo e delicioso, mas eu caí. 

Adivinha?

De bunda!

Fiquei uns quinze minutos sem conseguir levantar, doía à beça. Por dois dias foi bem dolorido, só que diminuiu e vida que segue. Incomodava, mas pensei: vai passar, é só um machucado bobo. Isso até sentir uma fisgada bem dolorosa no domingo. Talvez não fosse tão bobo assim, marquei médico e fui.

“Tenho quase certeza que fraturou, não sei se foi o cóccix, talvez o sacro”, foi o que ouvi. “Vamos fazer tomografia para confirmar”. Recomendou almofadinha, medicação e repouso. “Volta com o exame”.

Lá fui eu, tirar foto 360 da minha bunda. “As imagens ficam prontas hoje, mas o laudo só dia 13”.

É, tem o feriado.

Como a curiosa que sou, já olhei as imagens… mas quem disse que sei identificar fratura, trincado ou luxação?🤡

Ficarei dias sem saber se, literalmente, quebrei a bunda ou não.🤷🏻‍♀️

Porque, claro, para quem nunca fraturou nenhum osso sequer, eu “quebraria” um osso da bunda. Obviamente.🍑

Deixo com vocês como ilustração um “close” da dita cuja. Agora vocês também estão por dentro da estrutura da minha bunda.🙆🏻‍♀️

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